Por Luciano Tardock Campos
Em meados do século dezenove São Gonçalo ainda fazia parte de Niterói como uma freguesia. Ainda que despontando com sua produção rural, a região ainda estava atrelada a figura da capital fluminense. Bem antes de Luiz Palmier, outro médico foi nome importante na medicina local. Nascido em 1820, na região do bairro que hoje leva o seu nome, Antônio da Silva Gradim foi um dos grandes nomes da região de São Gonçalo no século dezenove.
Pouco se sabe sobre os primeiros anos de vida de Antônio, nome pelo qual devia ser chamado antes de ser conhecido apenas pelo seu sobrenome. A primeira referência que encontramos de Antônio da Silva Gradim, ele aparecia como aluno da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no ano de 1840. Na ocasião, ele teve um encontro com sua alteza imperial, D. Pedro II, com apenas 15 anos, poucos dias depois da famosa manobra política para colocar o jovem no trono. O evento aconteceu na Quinta da Boa Vista com toda a comitiva do jovem imperador recebendo estudantes de medicina.
A figura de Antônio se altera nesse momento para Dr. Antônio. Se forma por volta de 1845, quando no mesmo ano toma posse como médico da câmara da freguesia de São Gonçalo. Começa a aparecer como médico e fazendeiro na região, as terras do bairro eram uma fazenda e porto que pertencia originalmente aos seus antepassados, a Fazenda e Porto da Ponta. A carreira como médico e político começaram a andar a passos largos e em 1849 surge a primeira referência do mesmo como fazendeiro. A fazenda da Ponta devia ser uma imensa propriedade e influente na região. Ela sempre aparecia como uma das situações notáveis, ou seja, uma das maiores produtoras de algum gênero da freguesia. Já sabemos que ela também tinha um porto, o que exigia a existência das faluas (embarcações) para o transporte da produção local, uma olaria, uma casa, mais benfeitorias, arvoredos e cercas, sendo avaliada em 1 conto e 600 mil réis.
Em 1847, Gradim começa a concorrer aos cargos de legislatura representando São Gonçalo. Nessa altura da vida, ainda ao lado do partido conservador. Disputou vagas com nomes como o do Barão de São Gonçalo e, de acordo com as nominatas, Gradim teve boa expressão na política gonçalense, continuou aparecendo e atuando na política da freguesia de São Gonçalo durante muito tempo.
A influência do médico continou a crescer e foi ele quem alcançou cargos maiores na região. Nos anos 50 do século 19 a freguesia já contava com nomes como o de Francisco Rebello de Figueiredo, José Mariano de Amorim Carrão, que também foram políticos influentes em S. Gonçalo, mas foi Gradim quem conseguiu maior abertura.
Anúncio do Xarope de Arrault feito pelo Dr. Gradim no Jornal do Commercio de 25 de novembro de 1855.
Gradim era casado com dona Maria Clara Bustamante Gradim, falecida em 1859. Foram celebradas missas de sétimo dia nas igrejas de São João Batista de Niterói, São Gonçalo do Recôncavo e de Nossa Senhora da Conceição de Cordeiros. Coincidentemente, é por volta dos anos 60 que Gradim inicia um distanciamento da carreira como médico, enquanto sua vida política na freguesia continua a crescer, chegando a atuar como presidente da Câmara de Niterói de maneira interina em algumas ocasiões.
De posicionamento conservador, era monarquista e opositor de políticas republicanas, sendo oposição aos saquaremas, como pode ser visto em alguns periódicos de época. Nos anos 80 do século dezenove o Dr. Gradim começa a se posicionar de maneira diferente do que sempre se comportou. Inicia um processo de libertação de escravos, que começou com as escravas Deolinda e sua filha Rita em novembro de 1882, fato que continuou a fazer até a ocasião de seu falecimento, em maio de 1885, poucos anos antes de ter a chance de ver todos os escravos libertos.
Referências:
Almanak Administrativo, 1850-1859.
Correio da Tarde, 1840-1849.
Correio Mercantil, 1840-49, 1860-69,
Diário do Rio de Janeiro, 1840-49.
Jornal do Comércio, 1840-49.
Luciano Campos Tardock é formado em história pela Universidade Salgado de Oliveira. É professor e publica na página do Memória de São Gonçalo, onde busca resgatar um pouco da memória da cidade.
O Centro Cultural George Savalla Gomes – Palhaço Carequinha funciona de segunda a sexta-feira, das 9 as 18h, no primeiro andar da Câmara Municipal de São Gonçalo.
Conhecer detalhes, nomes de locais e a própria história sempre me facina, não perco oportunidade de uma leituras que traga luz a acontecimentos históricos da região que hoje vivo , a cidade que me adotou e que eu adotei como minha. SÃO GONÇALO !