Por Luciano Campos Tardock
A Câmara Municipal é , ou ao menos, deveria ser, o ambiente mais democrático de um município ou uma cidade. É nesse espaço onde leis e propostas são debatidas e onde a execução dos projetos da cidade começam a ser fiscalizados. A Câmara é o espaço onde a população deve se aproximar para cobrar os seus direitos. E é dentro desse contexto do surgimento de uma Nova Câmara para São Gonçalo, mais próxima da população em todos os seus aspectos, que uma nova coluna vai surgir no site. Uma que conte semanalmente um pouco da história desse espaço.
O antigo local da câmara dos vereadores, no segundo andar da prefeitura municipal, nunca foi totalmente seu. O espaço apertado, confinava as ideias. Agora, muito maior, consegue receber melhor a população e, na mesma proporção, compartilhar suas histórias. A Nova Câmara ocupa o prédio que um dia pertenceu ao Fórum de São Gonçalo. Um prédio por si só histórico para a cidade, com suas linhas modernas para a época em que foi construído, e que se localiza no bairro do Zé Garoto. E é justamente por esse personagem que vamos iniciar a página sobre as memórias da Nova Câmara.
José Alves de Azevedo veio ainda menino de Portugal para o Brasil. Nasceu na Vila Nova de Famalicão, Braga, veio só para o Brasil por volta de 1870 e contava com cerca de 12 anos de idade. A história é comum a tantos migrantes, com a vinda, buscava ajudar a família. José, como filho mais velho, levou o projeto a frente, vindo buscar no Brasil uma solução para a família. A ideia era buscar um tio que já se encontrava no Brasil, em Recife, mas este já se encontrava falecido quando o jovem se deslocava. Sem ter para onde ir e sem ter como voltar para Portugal, acabou permanecendo pelas ruas da zona portuária do Rio de Janeiro, onde recebeu algum amparo e proteção dos trabalhadores do porto.
Começou a trabalhar na região portuária, onde provavelmente ganhou o apelido que lhe deu fama: Zé Garoto. A família ainda conta que é nesse momento que o menino tem contato com a Maria Margarida Bazin Desmarest, a Madama, assim como seu filho Paul Joseph Leroux, ou apenas Paulo Leroux. Eles lhe estendem a mão, o ajudando
Algum tempo depois o jovem começou a trabalhar na região onde veio a estabelecer seu comércio, que lidava com ferragens, tintas e louças. Zé Garoto teve sucesso em seus empreendimentos vindo a se tornar uma referência na área, onde hoje existe a Praça Estephania de Carvalho, o Colégio Estadual Nilo Peçanha e a Nova Câmara dos Vereadores de São Gonçalo pertenceu ao próprio, eram suas terras e passou a dar nome ao local: Largo do Zé Garoto, parada obrigatória para se seguir até ao Alcântara. Também foi personagem importante na fundação do Grupo Escolar Nilo Peçanha, participando do lançamento da pedra fundamental dessa já centenária escola.
Largo do Zé Garoto, foto sem data, referência: São Gonçalo Cinquentenário, anos 40. Colorização digital por Fabio Rangel
Zé Garoto era um comerciante atento ao desenvolvimento da região. Teve intensa atividade dentro do município, onde atuou no conselho fiscal do Curtume São Gonçalo. Luiz Palmier é outro que destaca a quantidade de atividades que Zé Garoto tomou parte. Foi vereador, onde chegou a ser Vice-Presidente da Câmara e Juiz de Paz. Também atuou como membro da comissão de postura e da comissão de justiça e da guarda da constituição. O comerciante também foi membro da Guarda Nacional, ocupando o cargo de Major e representando o 162º Batalhão de Infantaria como comandante interino.
O lugarejo ao redor do comércio de Zé Garoto cresceu em importância, foi largo e se tornou bairro. Hoje é uma das áreas mais conhecidas da cidade. Até hoje, milhares de pessoas passam pelo “Zé Garoto” e se perguntam quem ele foi. Por meio da pesquisa histórica foi possível de se recriar uma pequena parte de quem foi José Alves de Azevedo, que veio ainda menino de Portugal, conviveu com nomes importantes da história local, que lhe estenderam a mão, construiu família, se casou com Orminda Clara de Azevedo com quem teve dez filhos: José, Deocleciano, Henrique, Paulo, João, Carlos, Castorina, Mercedes, Mário e Fernando. Se tornou conhecido e virou nome de bairro. José Alves de de Azevedo veio a falecer em 1934 mas o Zé Garoto permanece até os dias de hoje na história de São Gonçalo.
José Alves de Azevedo, ao lado de sua esposa Orminda Clara de Azevedo, foto sem data. Acervo familiar.
Referências.
Almanak Laemmert edição de 1910.
O Fluminense, edições de 1920, 22 e 23.
São Gonçalo Cinquentenário, de Luiz Palmier.
O município de São Gonçalo e suas histórias, de Maria Nelma C. Braga.
Memórias familiares colhidas pelo trineto de Zé Garoto, Daniel Ruiz, em setembro de 2019.
Luciano Campos Tardock é formado em história pela Universidade Salgado de Oliveira. É professor e publica na página do Memória de São Gonçalo, onde busca resgatar um pouco da memória da cidade.
O Centro Cultural George Savalla Gomes – Palhaço Carequinha funciona de segunda a sexta-feira, das 9 as 18h, no primeiro andar da Câmara Municipal de São Gonçalo.
Bela matéria, sempre é muito bom conhecer as histórias de nossa São Gonçalo, e olhe que tem bastante histórias !
Parabéns pela matéria. Hj aprendi a história de Zé Garoto.